27 de dezembro de 2013

Smile


          Eu era um garoto, minha idade era algo entre os doze ou treze anos, mas me lembro perfeitamente de tudo que aconteceu naquele estranho dia, lembro-me como se estivesse acontecendo neste momento.
Apesar de uma idade relativamente baixa, eu tinha uma namorada, e era um pouco mais responsável que a média dos garotos de treze, trabalhava em um mercadinho no bairro durante a tarde e parte da noite, para passar o tempo costumava trocar mensagens com a bela garota que se apaixonara pelo humano estranho que era eu.

          Numa noite, eram quase sete horas da noite e era a hora de fechar a loja e ir para casa, já ia me levantando quando vi o relógio mostrando que faltavam apenas dois minutos para o fim da primeira hora da noite. Era inverno e as noites começavam cedo, foi então que um carro parou em frente a porta, o motorista desceu e entrou em silêncio, isso me impedia de fechar na hora certa, o que me irritou um pouco, não me dei ao trabalho de cumprimentar o homem quando se aproximou, voltei a me sentar na cadeira por trás do balcão e meu olhar vagava pelo ambiente. Percebi uma anomalia no carro, não parecia um modelo comum, vasculhei minha mente procurando o nome do veiculo, era um Ford T. Assustado com a visão, olhei o homem que se movimentava pelo mercadinho, cartola, bengala, sobretudo marrom e um bigode raro nos dias de hoje, e a luz da lampada fluorescente do teto, parecia um pouco translucido.
          Repentinamente o olhar do  homem tomou a direção do meu rosto, tracei um arco com o queixo para a esquerda e voltei a observar o carro, disfarçando um possível erro, ainda nervoso, puxei o aparelho móvel de um dos bolsos e li rapidamente uma mensagem de texto, aparentemente minha pequena amada estava triste com algo, isso era o que apresentavam os símbolos na tela, digitei rapidamente em caixa alta "SORRIA :)" e coloquei o aparelho sobre o balcão, minha visão periférica captou algo estranho, nos fundos do Ford de 1903, um vulto se movia de maneira nada humana. Novamente a visão periférica, a tela do meu aparelho brilhou e pude ler "mensagem enviada", ignorei e voltei a olhar para o vulto agora podia distinguir as formas, como se pudesse ver através do vidro escuro, longos cabelos negros, pele branca e olhos cinzas inexpressivos, um forte tom de vermelho abaixo do nariz, escorria pelos lábios artificiais, que iam de orelha a orelha, cortados por uma lamina fina como folha. A figura me encarou, e o tempo pareceu estático.
- Este é meu melhor sorriso amor - sussurrou uma voz à minha orelha - O ultimo.
          Então, imitando o tempo ao meu redor, me coração parou, e todos os músculos da minha face se contraíram num abominavelmente belo sorriso, como este que se projeta em sua face... meu doce amor.

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